devaneio a entrar em mim, fora!
beirando eu queria estar
No tropeço descanso;
não desminto
toda unha na carne
que insiste em cravar a sua marca
recebe o alento de não achar coisa alguma.
incansável
descompasso
eu e eu
antevejo o escuro
longe
perto
mastigo a bochecha e meu sangue é meu acusador
as lembranças me visitam quando o vermelho se exibe
como boa caça, antevejo a podridão
não temo, o escuro é meu
é minha lascívia e minha verdade
carrega meu nome num berço de ramos
bebe em mim a tua fertilidade
e eu giro, giro, giro
em órbita sempre
sempre contigo.
Minhas costas se arqueiam e meu peito troveja
alma corpo me digam os nomes, cuspam todos em mim;
eu os sangrei.
E é do meu sangue que me limpo.
Pois torça meu verbo, embace minha memória.
Eu me abasteço da raiz,
nas contorcidas, nas subterrâneas que erguem.
O barro continua me dando de comer.
Corte-me e me esfaqueie a presença!
De mim ecoam os timbres do antigo e do verdadeiro
e me envergo ao parir novamente
a minha própria existência.


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sensação de rodopio ampliado, abre a janela do que pode ser um dia que não virá
hoje
veio?
eu choro. choro por
veio?
são tantas as, são tantos
tanto, de sofregar. me perco
quando fui começo e fim, o meu meio foi fisgado e tragado por uma alguma vi ia torta
eu já fui começo?
era meu?
bem, sei que me esqueci qual a distância do meu pé entre a terra e minha cabeça e o céu
me puxam as extremidades sem dó, minha barriga é enorme.
Meu amado desconcerto
quando decidistes se apoderar de mim? não reclamo, permanece!
tua onda desvairada que me atinge o peito já me levou a lugares que não ouso aqui dizer
descompasso
incansável
eu e eu
peleaoavesso
A VIDA PRÓPRIA DE UMA FARSA

Adestrada minha sombra, ela compactua com as mentiras que não possuo
Se não são minhas, me escapam
Com as imagens que pinto a parecer
Sei que, dentro, há um uma chama que arde
Fogo real, verdadeiro
São quantas as camadas que o revestem, me pergunto
Cada rasgo me leva para um fronteira
Estou à beira, meu pé suspenso
Entre aquilo que me ensinei a ser e o que não entendo
Desconhecido
Minha respiração revela meu medo
Adestrada minha sombra, até minhas meus fios de cabelo controlam o que se passa
Quando, me pergunto, me verei externa à essa coreografia minuciosa
Quando me verei curvada ao incontrolável

Estou à beira de algo que me persegue
Estou à beira de alguém
Estou à beira de alguém que pode ser eu.
severamente longa minha invalidez
quaisquer móveis que se cubram
manterão o liso da nudez
onde ela está?
Perder-se faz parte do caminho sim
Eu sou dispersa hoje, não sou e sou em diferentes velocidades
Minhas moléculas reconhecem uma aproximação distinta, do imã que foram antes
Claro que tudo o que se foi ainda tem chance de ser, mas não completamente, veja bem
tudo o que voltar a ser é um retorno, e retornos nunca são incólumes
Estou dando os passos para trás, quem sabe esbarro com alguém que conheci
Aos poucos reconheço o fluido no qual estou sendo
É uma inevitabilidade atraente a de dispersar, soltar-se
Conhecer é preciso, mas mais preciso ainda é encontrar formas de, mesmo na vastidão e neblina, reconhecer-se minimamente
sua história e suas verdades
Eu declamo e defendo: a bagunça é bem-vinda, talvez seja ela a síntese a respeito de tudo
Mas ora ou outra o desmembramento torna-me escassa, insossa e capaz de sumir com a mínima brisa
Aceito a minha durabilidade, aceito a minha variabilidade
A última talvez me doa mais, ainda assim é dela de que vivo
Contudo, o desejo de voltar não se sacia
A sensação de integrar é uma existência belíssima, que vez ou outra pude vislumbrar
Faço e refaço minhas presenças, e me nutro pela destruição
Saber desenrolar a vida após a morte é uma tarefa diferente, e me exige mais
Mas dela também me sorvo,
É díficil lembrar sempre disso. Eu esfolo todo o corpo, e entro em terreno irregular
Não é macio. É extremamente vulnerável.
Mas é onde vejo sentido.
Destruir e recolher os restos são passos de vida vazios.
Se engana quem vê morte, se engana quem não a vê.
Se engana quem vê.
Porque tudo é não dois, e nem um.
Ruir requer ânsia do vazio.
O que não pode acontecer dentro de um entre em ruínas?
Em uma cabeça sem pensamentos? Sem ideias? Entregue ao fluxo brincante do nada.
Ele que tanto gosta de ser não-dois, e virar tudo.
Será que o corpo já viveu tamanho desimpedimento?
A presença carece de utilidade, e isso significa perigo.
Alerta.
Aqui algo nasce.
E se nasceu, morreu também.